OS VERDADEIROS DONOS DO PODER  – 2018

OS VERDADEIROS DONOS DO PODER – 2018

Publicado no Jornal A Gazeta,  Vitória/ES,  p. 15, em 12 de janeiro 2018 

É de chamar a atenção a forma como são conduzidos os assuntos de relevância pública em nosso país. Desde a convocação de investigados ou testemunhas para se apresentarem em CPI’s, passando pela discussão da reforma da previdência, o que dita os rumos das decisões a serem tomadas não é a busca pela satisfação do interesse público, mas sim, a manutenção de interesses partidários e grupusculares. Ninguém está preocupado se “A” ou “B” podem acrescer alguma informação útil à determinada CPI. O que realmente importa é o desejo de não expor o aliado político e execrar o adversário. O que realmente importa é o desejo de não expor o grande empresário, com a finalidade de receber algum benefício ilegítimo. Ninguém está interessado em conhecer o déficit da previdência social ou mesmo se de fato existe o alegado déficit. O que realmente importa é saber qual será o valor a ser destinado em emendas parlamentares ou como se dará a distribuição de cargos públicos. Não existe preocupação com a possibilidade de no futuro próximo não haver dinheiro para sustentar as pensões e aposentadorias. O que realmente importa é aquilatar se o Presidente da República (ainda) possui cacife político suficiente para sustentar referida reforma. Hoje a maior preocupação daqueles que nos representam é a manutenção do poder. Nossas instituições públicas enfrentam uma inegável crise de legitimidade. Igualmente vivenciamos uma crise de representatividade em que os interesses privados e pouco republicanos daqueles que nos representam são sobrepostos aos verdadeiros e legítimos anseios da coletividade. A sociedade brasileira contemporânea vivencia, sem dúvidas, um momento preocupante que apresenta uma verdadeira ruptura na essência do sistema democrático representativo, eis que os interesses dos representantes eleitos, em regra, têm se sobressaído quando confrontados com as necessidades dos cidadãos. Essa é a mensagem que nossos representantes insistem em mandar para a sociedade: no jogo do poder não existe essa balela de “interesse público”, mas tão somente o desejo de perpetuação e inalteração do status quo. Logo em seu artigo 1º, a Constituição Federal deixa claro que “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Tal comando não se encontra logo no primeiro artigo da Constituição por mera coincidência. Pelo contrário. O legislador constituinte quis deixar claro que em qualquer circunstância o exercício do poder deverá sempre ter por foco seu real destinatário: o povo! Isso nos revela que nós, o povo soberano, somos os verdadeiros donos do poder. Creio que apenas faltou combinar com os nossos representantes eleitos. Oxalá que em outubro de 2018 sejamos capazes de compreender a necessidade de recuperação da democrática brasileira.

RODRIGO MONTEIRO 

Promotor de Justiça; Mestre em Direito 

 

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